PSICOPATIAS
RESPONDENTE: Maria Angélica Falci
Psicóloga Clínica/ Saúde Mental
Falar deste assunto é algo que precisa ser detalhado com muita cautela, pois se trata de um dos diagnósticos mais difíceis de serem fechados, envolve muitas nuances circunstanciais.
Leio muito o trabalho do Psicólogo Canadense Dr. Robert Hare e com base em seus estudos vou relatar de forma objetiva partes importantes.
Foi este profissional que descobriu em 1991 critérios que hoje são universalmente aceitos para diagnosticar portadores desse transtorno de personalidade. Começou seus trabalhos na faculdade ao trabalhar muitos anos diretamente com detentos criminais. Segundo ele, as pessoas não nascem psicopatas, não é uma categoria descritiva como ser homem ou mulher e sim uma medida que varia para mais ou para menos. As pessoas nascem com tendências para a psicopatia e que podem ser percebidas desde a fase primária. Não tem como dizer que uma criança se tornará um adulto psicopata. Mas, se ele age de modo cruel constantemente com crianças menores e animais, mente olhando nos olhos, não expressa remorso e dissimula sentimentos de forma teatral, poderá sim ser um comportamento problemático no futuro.
Como características principais da psicopatia, são consideradas: ausência plena de sentimentos morais, tais como o remorso ou a gratidão, grande facilidade em mentir e convencer as pessoas, objetivos/frios, anancásticos, superficiais e etc. Não podemos generalizar que todos os psicopatas irão cometer maldades de nível máximo. Em geral, apresentam sim, comportamentos que podem ser classificados como perversos e níveis mediante a classificação desenvolvida pelo Dr. Hare, mas a maioria dos psicopatas tem a finalidade apenas de tornar tudo mais fácil ao seu redor e não importa a eles quaisquer riscos, prejuízos, tristezas que causem a terceiros.
Posteriormente aos estudos do grande estudioso comportamental B.Watson, veio à tona o termo Sociopata, termo este criado para sugerir que o indivíduo era fruto do meio ambiente em que viviam, suas condições psicológicas, sociais, físicas e outras seriam reflexos da educação recebida, da proximidade dos pais, facilidade para ter amigos, boa nutrição e etc. O termo persiste e define um nível dentro da psicopatia, onde o sujeito possui uma ambição mais forte, intuitos de prejuízos sociais mais complexos, ou seja, poderá provocar danos morais e sociais de espectro ampliado, enquanto psicopatas tendem a ter alvos mais isolados, descartam riscos e partem para o alvo a fim de atingir seus objetivos pessoais.
Podemos dizer que todo sociopata é um psicopata, mas nem todo psicopata é um sociopata.
Geralmente, são pessoas “normais”, mas ao conhecer melhor esta pessoa, aparecem facilmente diversas disfunções que apresentam a condição problemática da pessoa, tais como: frieza com os filhos, mentiras sistemáticas, grande facilidade de manipulação. Quando é flagrado fazendo algo errado, continua tentando convencer as pessoas que foi um mal entendido.
Em geral seu sentimento tem haver com posse, sentimentos de propriedade, por exemplo: “eles amam o carro da mesma forma como amo meu marido”. Utilizam o termo amor, mas no íntimo não conseguem sentir da maneira como nós entendemos /expressamos. Suas respostas são concretas em excesso, objetivas, diretas, do tipo: “Amo ela porque é bonita, porque o sexo é bom, porque ela me ajuda”...
“As emoções estão para o psicopata assim como o vermelho está para daltônico. Eles não conseguem vivenciá-las” Robert Hare.
Por isto tratar um psicopata no modelo tradicional da terapia comportamental / cognitiva, não alcançará nenhuma resposta. Por exemplo, fazer com que um detento psicopata mude a sua forma de sentir, de ver uma situação ocorrida com outra visão, de se colocar no lugar do outro, expressar raiva, compaixão e etc. Será tudo em vão, pois eles não sentiram dor no ato e sim prazer. Este tipo de conduta não deve ser utilizado com eles, pois não conseguem ver nada de errado em seu próprio comportamento.
Podemos dizer que existem muitas divergências com relação às penas executadas a estas pessoas. Segundo o Dr. Hare, eles são responsáveis por seus atos, mas ainda existem muitas investigações a respeito. Uma corrente afirma que eles não entendem as conseqüências dos seus atos e o argumento é que quando tomamos uma decisão, fazemos ponderações intelectuais e emocionais e o psicopata faz apenas a parte intelectual/racional, não faz a emocional, não consegue sentir as emoções morais. Agora tem outra corrente que diz da perspectiva jurídica que ele entende e sabe o que a sociedade considera errado e mesmo assim decide simplesmente fazer, e desta forma fez uma escolha e deve sim ser responsabilizado pelos crimes e danos cometidos. Ainda são pontos de intensas discussões e sem um caminho único.